A tecnologia pode ser considerada um fator de risco psicossocial?
A identificação e o controle dos riscos psicossociais no trabalho ganharam impulso nas ações de saúde e bem-estar. Um dos motivos para o aumento dessa discussão foram as alterações da NR-1; ainda assim, o tema dos fatores psicossociais continua candente, não só no Brasil, mas em vários outros países industrializados.
A lista de riscos psicossociais é longa: conflitos interpessoais, falta de autonomia, carga de trabalho excessiva, recompensas insuficientes, entre outros. As consequências desses riscos incluem sofrimento e adoecimento dos empregados, além de prejuízos à produtividade das organizações.
A complexidade do tema tem gerado diversas discussões e tirado o sono dos gestores. Muitos fatores psicossociais são de difícil identificação e mensuração, e as consequências individuais e coletivas são influenciadas pela multicausalidade. A responsabilidade dos empregadores é grande, e muitas organizações ainda têm dificuldade em lidar com o manejo desse tema.
Será que a tecnologia no ambiente de trabalho pode ser considerada mais um fator de risco psicossocial?
Um estudo publicado em uma revista do grupo Oxford University Press discute como os recursos tecnológicos usados no ambiente de trabalho atuam como agentes de risco psicossocial. O foco do estudo é entender como as tecnologias emergentes podem impactar a segurança, liberdade, equidade e autonomia dos trabalhadores.
Os pesquisadores classificaram as tecnologias no trabalho em quatro categorias de acordo com sua funcionalidade: automação, intermediação, gerenciamento e digitalização. Esses elementos foram combinados com os dados da literatura, com foco nos princípios éticos da não maleficência, beneficência, autonomia e justiça, a fim de identificar os efeitos sobre os fatores psicossociais. Os autores identificaram riscos psicossociais distintos para cada categoria tecnológica, como perda de controle sobre o trabalho, insegurança e sobrecarga mental.
Esses resultados indicam que o avanço tecnológico no ambiente de trabalho não é neutro e pode tanto promover quanto prejudicar as condições de trabalho. Esses dados reforçam a necessidade de políticas e práticas voltadas à prevenção e ao manejo desses riscos, de forma sistematizada para as diferentes funcionalidades da tecnologia.
Artigo completo: Schulte PA, Streit JMK. Psychosocial risks and ethical implications of technology: considerations for decent work. Ann Work Expo Health. 2025 Apr 24;69(4):360-376. doi: 10.1093/annweh/wxaf003.