Atire o primeiro biscoito recheado quem nunca substituiu uma refeição, em um dia atarefado de trabalho, por um alimento ultraprocessado. Se você faz isso com frequência, o momento de mudar esse hábito é agora.

Discutir se é correto chamar os ultraprocessados de alimentos pode ser um bom ponto de partida. A rigor, eles são formulações de substâncias derivadas de alimentos. Em outras palavras, já não preservam as características dos alimentos originais: salgadinhos embalados, refrigerantes, balas ou macarrão instantâneo não lembram nem de longe ingredientes que nossa biologia possa reconhecer como comida de verdade. Esses produtos são ricos em aditivos para melhorar o sabor, textura, aparência e durabilidade, que são grandes atrativos para o consumo. Muitos deles são baratos e disponíveis em pontos de venda variados, o que facilita o acesso a toda a população. Alguns países já têm mais de 50% do consumo calórico da sua população baseado nesses itens.

No contexto do trabalho, é comum que o ritmo e a administração do tempo das tarefas deixem o cuidado com a alimentação em segundo plano. Então, os ultraprocessados podem parecer uma alternativa, e pronto: lá estamos nós nos convencendo de que “é só hoje mesmo, não deu tempo de escolher algo melhor”.

Uma metanálise publicada no British Medical Journal chama a atenção para as consequências do consumo desses produtos, associados diretamente ao aumento da mortalidade, câncer, problemas cardiovasculares, gastrintestinais, metabólicos e até ansiedade e outros transtornos mentais. Por isso, dentro e fora dos ambientes de trabalho, desencorajar o consumo de ultraprocessados é uma medida de saúde pública.

As organizações podem ajudar em várias frentes. Oferecer alimentos frescos para seus empregados, tanto nas refeições principais quanto nos lanches intermediários, pode ser uma ação de impacto positivo. Viabilizar acesso a restaurantes e outros estabelecimentos que vendem comida de verdade através de incentivos financeiros, e fazer a curadoria do que é disponibilizado em suas cafeterias e máquinas de venda também pode ser um caminho viável. Se o empregado procura água quente na hora do almoço para preparar sua refeição, é sinal de que as ações de saúde e bem-estar da empresa precisam de um novo rumo.

Artigo completo: Lane MM et al. Ultra-processed food exposure and adverse health outcomes: umbrella review of epidemiological meta-analyses. BMJ. 2024 Feb 28;384:e077310. doi: 10.1136/bmj-2023-077310.